sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Pois é, companheiros, eu não fui ao ato em favor da Palestina. Mas fico feliz em saber que o ombudsman foi bem representado por meus amigos encapetados...

Acontece que eu estou de férias e escrevendo minha dissertação a toque de caixa. Frenético. O ritmo do teclado está até lento, mas, se olhar bem, existe uma fumacinha sendo constantemente expelida de minha cabeça, de tanto que eu penso, planejo e estudo.

E o meu horário mais produtivo é a tarde. Como agora, neste momento em que escrevo como quem alonga o verbo... Pra distrair um cadinho...

No entanto, tenho mantido alguns divertimentos. Pela manhã, me submeto ao masoquismo de sempre e leio o jornal enquanto cumpro minhas obrigações fisiológicas. Como sempre, me emputeço e desço atrás de café da manhã. Já alimentado e aparentemente liberto das notícias deploráveis, vou à locadora pegar um filme, o qual verei de madrugada, depois da labuta prolongada, de uma caminhada no Aterro ao fim de tarde e de um longo baseado, antes ou depois – varia – de cumprir minhas obrigações matrimoniais.

E assim vai...

Não sei se vou conseguir terminar essa porra dessa dissertação no prazo, mas confesso que está até bom escrevê-la. Estou gostando.

Para vocês verem, tem uma caixa de cervejas em lata intacta na minha geladeira, presente do primo mineiro de minha mulher e sua namorada igualmente mineira que se hospedaram aqui em casa na virada do ano. Intacta. Juro.

Não vou dizer que não tive vontade. Confesso até que hoje está foda. Mas eu me conheço. É tomar uma latinha e minha rotina acadêmica vai pra puta que pariu.

Não, melhor não.

Juro.

****

Mas, como eu disse, estou vendo um filme por dia. Ontem vi “O amor nos tempos do coléra”, adaptação da obra do Gabriel García Márquez.

Muito bom. Pena somente ser em inglês. Mas está bem a cara do Gabo. Acho que é assim o seu apelido...

Tem uma parte do filme que a personagem da Fernanda Montenegro aconselha ao filho recém apaixonado que sinta aquele sofrimento incandescente da paixão em toda sua magnitude, pois é uma das melhores sensações da vida.

Achei lindo. Ainda mais nos dias de hoje em que somos todos condenados a viver numa perpétua alegria, nem que seja quimicamente construída. E devemos superar o mais rápido possível nossas tristezas, sob o risco de serem promovidas a depressão e condecoradas com a insígnia da psicopatologia.

Eu, sinceramente, nunca agi assim. Coisa que meus médicos, terapeutas e familiares nunca entenderam. Se bebo e cheiro e fumo e mastigo e ponho embaixo da língua não é pra esquecer, pra aliviar ou me curar, mas sim pra soltar a tristeza que eu fui pedagógica e intuitivamente acostumado a prender. É pra ficar mais triste, para aprender a ficar triste.

Aprendi isso numa martelada do poeta-filósofo-bigodudo alemão.

****

Outro dia um camarada meu me encontrou na rua e, ao responder o “e aí, tudo bem” habitual dos começos de conversa com um “maior merda, terminei com a minha namorada um dia antes do reveillon, estou sofrendo pra caralho”, me perguntou o que eu achava que ele devia fazer.

Eu respondi “fica em casa, quietinho e chora, ué”.

Ele me olhou como quem esperava algo mais de um psicólogo.

De qualquer forma, tenho certeza que ele deve ter seguido o meu conselho.

****

Fiz esses versos ontem, depois do filme...

Perto e Longe

Longe
Longe
Bem longe
Lá onde
O olhar se cansa
De espichar
É lá onde
Se esconde
O que não me canso
De esperar

Decerto
Perto
Aqui
Bem perto
Onde
Mal estico o braço
E já posso
Alcançar
Reside
Um cheiro incerto
Um tédio
Um beijo morno
Um sussurro
E o mistério
Do que será que
Ao longe
Me espera e se esconde
Do meu olhar


Lá longe
Onde
O vento faz a curva
A nuvem fecunda a chuva
E o sol vai deitar
É lá onde a morte
Inerte em paz
Nada mais faz
Além de me espreitar

Decerto
Quando
Estiver perto
Bem perto
Já não serei capaz
De ver a morte chegar

Pois para trás
Lá atrás
Bem longe
Voltar-se-á meu tédio
Meu sussurro
E o brilho
Do meu olhar.

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