quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
de grata surpresa para grata surpresa
Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.
Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.
Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.
E eu te direi: amigo meu, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.
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*a pequenina alteração na última estrofe foi feita com o perdão de vinícius.
sábado, 24 de janeiro de 2009
- clê, você sabe essa favela que tem aqui no final da teixeira de melo, em ipanema?
- sei não. como chama?
- essa que pega o final de copacabana, que tem um criança esperança. seria cantagalo?
- sei, sei.
- é tranquila?
- por que?
- tem uma academia de jiu-jitsu lá e quero experimentar fazer. então queria saber se tem muito tiroteio, se é perigosa...
pausa para pensar e crer na cena.
- pelo que sei é tranquilo. mas assim mesmo, você vai entrar na favela de carro blindado?
- tem elevador.
ahh, tá!
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
das minhas razões
Para destampar
Para tentar acomodar melhor a mim
Dentro de mim mesma
Escrevo para exercitar
Divertir e passar...
O tempo, a vida e os humores
Como quem cultiva hortas
Ou joga futebol
Escrevo o que vivi
O que queria viver
O que os outros viveram
O que eu acho embaixo da cama
Escrevo porque ninguém entende
Porque penso mais rápido do que falo
Porque falo rápido
Porque penso
Escrevo como bebo:
Para ficar bêbada,
E não para gastar dinheiro
Afinal, as coisas na vida devem ter sentido
* isso surgiu de um papo que surgiu ontem, num encontro que surgiu do nada. por que você escreve?
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
descobrindo a vida
• que A Favorita, novela da Globo, acaba hoje;
• que o Big Brother começou, e, melhor ainda (sic), que tem dois velhos na parada. Achei engraçado, mas aí quando pensei em ver, pra ver se eles se azaravam, descobri ainda que existem duas casas, e cada um está de um lado.
• que correr todo dia, e ficar sem tomar cerveja, realmente emagrece. Porém, muito mais devagar do que eu necessito. Em seis dias correndo, um quilo ficou pra trás. Os outros 9 que, em tese, preciso perder, continuo carregando nas corridas.
• que ainda não alcancei a sofisticação pra fazer dieta. O máximo é comer menos, mas selecionar o que comer é mais difícil do que parece.
• que sou um cara de sorte. Ainda mais trabalhando com quem trabalho. A Clê, coitada, não pode dizer o mesmo. Até quem anda com ela está com má sorte. Pelo menos essa semana. E não é que estou sem trabalhar essa semana? É muita sorte!
• que se por um lado eu tenho sorte, por outro tenho que escrever a dissertação. E descobri, pasmem, que é mesmo muito complicado como vinham me dizendo alguns amigos há algum tempo, coisa de um ano. Não levei a sério, mas acho que lá pra segunda o bicho vai pegar, porque fiquei de entregar na terça (dia 20) – e Bodão, ainda estou na página 25, no primeiro capítulo. Como anda você? (se tiver muito avançado, nem conta, que vai me desanimar).
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Tenho que confessar que a cerveja só parou no domingo último, ou seja, menos de seis dias. E que nesse intervalo, numa tal terça-feira, tive que, solidariamente, tomar umas cervejas. Mas não acredito que foi por causa disso que emagreci apenas um magro quilinho, não é mesmo?
O que sei é que do dia 19 de dezembro até o dia 10 de janeiro num teve nenhuma caminhada, só mesmo de casa pro bar (isso quando ia no bar, que a maioria da cachaçada foi mesmo em casa). E 5 quilos a mais na balança.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
piauí
tem uma parte ótima que o conti, que é o entrevistador, pergunta a lula sobre vários jornalistas - tipo uma rapidinha. tem poucas tiradas boas, porque o presidente não é bobo. mas no geral, fica óbvio que as respostas são mentirosas, prontas. é rídiculo ver o lula dizendo que admira o janio de freitas ou fingindo que não sabe quem é mainardi. interessante seria guardar as respostas e perguntar tudo de novo daqui há uns anos.
um trecho:
Pedi ao presidente que desse sua opinião sobre alguns jornalistas brasileiros. A cada nome, ele disse umas poucas frases.
Elio Gaspari, colunista da Folha e de O Globo: “Tenho um profundo respeito pelo Elio Gaspari. É um dos grandes jornalistas brasileiros, independente de eu concordar ou não com ele.”
Merval Pereira, colunista de O Globo e da GloboNews: “Acho o Merval, às vezes, um jornalista com um pensamento só: o pensamento contra o governo.”
Clóvis Rossi, repórter e colunista da Folha: “Sou muito amigo do Clóvis Rossi.”
Ali Kamel, editor-executivo da Central Globo de Jornalismo e colunista de O Globo: “O Ali já fez artigos me defendendo do preconceito. Mas tenho profundo ressentimento da cobertura da Globo na campanha de 2006. Não expresso esse ressentimento no meu comportamento, nas minhas atitudes, na minha relação com a imprensa e muito menos com a Globo. É uma coisa que está comigo.”
Janio de Freitas, colunista da Folha: “Sou um admirador do Janio de Freitas mesmo quando ele fala mal do governo.”
Diogo Mainardi, colunista de Veja e do programa Manhattan Connection, da GNT: “Confesso que não leio.”
A íntegra está aqui.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
notas de uma jornalista
Estou eu lá na pista do Santos Dumont, deitadinha, terminando minha leitura e fiquei entre duas. Uma sobre tubarões a outra sobre jornais. Apenas ontem à noite escolhi a que colocaria aqui. A dos jornais.
Explico-me.
Fui a um aniversário na sexta. Pessoas legais, cerveja gelada, música agradável e essas coisas todas que fazem uma noite divertida. Mas o que interessa aqui é que num dado momento conversava com alguém que não conhecia e contei que sou jornalista – me foi perguntado. A reação: uma felicidade exagerada de saber o que eu fazia e claro, a pergunta de sempre, em que redação eu trabalhava.
Como de praxe, disse que não é lá muito orgulho ser jornalista - não era o momento também para me explicar. Apenas pontuei que não gostava de redação, mas que exercia a profissão em circunstâncias que me deixavam satisfeita – pelo menos por hoje.
Pois bem. No sábado, antes de dormir, sentei aqui pra escrever sobre morte sob encomenda e li a íntegra de um dos posts do Bodão. Diz o nosso poeta: "Pela manhã, me submeto ao masoquismo de sempre e leio o jornal (...) Como sempre, me emputeço".
Domingo, depois da pedalada, abro o jornal e lá está o Lula, lembrando o Bodão, de forma menos literária: “tenho azia, por isso não leio jornais pela manhã”.
Nessas horas, o que me acalenta é pensar que podia ser pior: podia ter feito direito.
Passou o dia e à noite, desci para o chop do fim do fim de semana, num bar aqui na esquina. Lá tem dois garçons à noite, que conhecem toda a minha família. O Vicente e o 'Botafoguense'. No fim do chop, vou ao balcão para passar o cartão estourado e o Botafoguense – que não sei porque diabos sabe que sou jornalista – me conta uma história do seu bairro e um problema que estão tendo com supostos milicianos. Ouvi atenta, dividindo-me entre a senha do cartão e o relato. Ao fim, restou-me explicar que não trabalho com jornais, mas que se ele desejava divulgar a história, deveria procurar um.
Senti que o deixei meio frustrado. Tipo quando você pergunta a um médico o que pode ser aquela dor constante do lado esquerdo da barriga e ele responde que é ortopedista. Ele me disse que seria difícil, jornais não se interessam assim por qualquer história. A esperança do Botafoguense era entrar no jornal ‘pela janela’.
Por conta da rápida consultoria, pedi um (chop) garotinho de brinde, pensando em falar pra ele: ‘cara, um dia a gente chega lá. Botafogo campeão de qualquer coisa e jornais que tratem dos nossos problemas’. Mas fiquei calada, porque a gente sabe: o título do Botafogo está logo aí, mas outros jornais...
Então, em homenagem à minha honrosa profissão: "O Sr. Keuner e os jornais".
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O Sr. Keuner encontrou o Sr. Wirr*, o que lutava contra os jornais. "Sou um grande adversário dos jornais", disse o Sr. Wirr, "não quero jornais". O Sr. Keuner disse: "Sou um adversário maior dos jornais: quero outros jornais".
"Escreva numa folha de papel", disse o Sr. Keuner ao Sr. Wirr, "o que o senhor exige para que os jornais sejam publicados. Pois jornais serão publicados. Mas exija um mínimo. Se o senhor, por exemplo, admitir que corruptos façam jornais, isso para mim seria melhor do que se exigisse homens incorruptíveis, pois eu os subornaria para que melhorassem os jornais. Mas se o senhor exigir incorruptíveis, vamos começar então a procurá-los, e se não encontrarmos nenhum, vamos começar a produzi-los. Escreva numa folha de papel como devem ser os jornais, e se encontrarmos uma formiga que aprove essa folha, vamos então começar imediatamente. A formiga nos será de maior valia para melhorar os jornais do que toda uma gritaria sobre o caráter incorrigível dos jornais. Pois uma montanha será mais facilmente eliminada por uma única formiga do que pelo rumor de que não pode ser eliminada".
Se os jornais são instrumentos da desordem, são também um instrumento de ordem. Precisamente pessoas como o Sr. Wirr demonstram, com sua insatisfação, o valor dos jornais. O Sr. Wirr diz que se preocupa com a insignificância atual dos jornais, mas na realidade preocupa-se com seu valor futuro.
O Sr. Wirr considerava o ser humano sublime e os jornais incorrigíveis, enquanto o Sr. Keuner considerava o ser humano mesquinho e os jornais corrigíveis. "Tudo pode se tornar melhor", dizia o Sr. Keuner, "menos o homem".
* Significa "confuso" em alemão (N. do tradutor).
sábado, 10 de janeiro de 2009
Deus é naja e a vida é minha
Escrevo porque no primeiro bar, conversava com os dois conhecidos sobre a vida de um outro. Fofoca. E aí falávamos sobre certas desgraças que se abatem sobre certas vidas e desenvolvemos uma teoria (meio macabra, na verdade): nós poderíamos ter controle sobre o fim de nossas vidas, porque para muitos, viver muito é uma tormenta. Não falo de suicídio, essa coisa emotiva e triste. Seria algo mais sóbrio, uma decisão mais madura baseada na simples constatação de que a vida não tem mais muito pra onde ir. E também não podia rolar essa coisa de se jogar da ponte ou cortar o pulso. Tinha que ser algo menos pessoal, digamos. E a coisa ficou mais macabra quando pensamos num ‘serviço prestado’ de morte.
Enfim, tudo isso me lembrou o ótimo texto, do excelente Caio Fernando Abreu, sobre o ‘Jamanta Express’ – um serviço de Jamanta que você chama para lhe esmagar quando a vida estiver muito ruim.
Bom, como diria um conhecido meu: ‘um dia conseguimos escarrar todo esse moralismo’ e a morte deixa de ser algo menos mítico ou quixotesco, que seja. E passa a ser simplesmente o fim da vida, ou o fim do tormento, para muitos.
* é preciso dar créditos na vida: o texto do Caio Fernando me foi apresentado por uma boa amiga. Aquela que 'desistiu de escrever'.
lembram da caixa de cerveja que se mantinha intacta em minha geladeira...
pois é...
ontem, das oito da noite, mais ou menos, às duas da madruga, produzi feito um doido... já se somam 12 páginas prontas em minha dissertação... e um bom banco de citações com 8 páginas, além dos trabalhos aproveitados nos capítulos demarcados e, até agora, sem orientação, definidos.
ni tudo, é papo de 30, 40 páginas de massa bruta, a ser polida, descartada e ampliada, segundo a força do argumento que só faz se consolidar...
então...
pois é...
bebi as doze latas...
eita!!!!!!!!!
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Acontece que eu estou de férias e escrevendo minha dissertação a toque de caixa. Frenético. O ritmo do teclado está até lento, mas, se olhar bem, existe uma fumacinha sendo constantemente expelida de minha cabeça, de tanto que eu penso, planejo e estudo.
E o meu horário mais produtivo é a tarde. Como agora, neste momento em que escrevo como quem alonga o verbo... Pra distrair um cadinho...
No entanto, tenho mantido alguns divertimentos. Pela manhã, me submeto ao masoquismo de sempre e leio o jornal enquanto cumpro minhas obrigações fisiológicas. Como sempre, me emputeço e desço atrás de café da manhã. Já alimentado e aparentemente liberto das notícias deploráveis, vou à locadora pegar um filme, o qual verei de madrugada, depois da labuta prolongada, de uma caminhada no Aterro ao fim de tarde e de um longo baseado, antes ou depois – varia – de cumprir minhas obrigações matrimoniais.
E assim vai...
Não sei se vou conseguir terminar essa porra dessa dissertação no prazo, mas confesso que está até bom escrevê-la. Estou gostando.
Para vocês verem, tem uma caixa de cervejas em lata intacta na minha geladeira, presente do primo mineiro de minha mulher e sua namorada igualmente mineira que se hospedaram aqui em casa na virada do ano. Intacta. Juro.
Não vou dizer que não tive vontade. Confesso até que hoje está foda. Mas eu me conheço. É tomar uma latinha e minha rotina acadêmica vai pra puta que pariu.
Não, melhor não.
Juro.
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Mas, como eu disse, estou vendo um filme por dia. Ontem vi “O amor nos tempos do coléra”, adaptação da obra do Gabriel García Márquez.
Muito bom. Pena somente ser em inglês. Mas está bem a cara do Gabo. Acho que é assim o seu apelido...
Tem uma parte do filme que a personagem da Fernanda Montenegro aconselha ao filho recém apaixonado que sinta aquele sofrimento incandescente da paixão em toda sua magnitude, pois é uma das melhores sensações da vida.
Achei lindo. Ainda mais nos dias de hoje em que somos todos condenados a viver numa perpétua alegria, nem que seja quimicamente construída. E devemos superar o mais rápido possível nossas tristezas, sob o risco de serem promovidas a depressão e condecoradas com a insígnia da psicopatologia.
Eu, sinceramente, nunca agi assim. Coisa que meus médicos, terapeutas e familiares nunca entenderam. Se bebo e cheiro e fumo e mastigo e ponho embaixo da língua não é pra esquecer, pra aliviar ou me curar, mas sim pra soltar a tristeza que eu fui pedagógica e intuitivamente acostumado a prender. É pra ficar mais triste, para aprender a ficar triste.
Aprendi isso numa martelada do poeta-filósofo-bigodudo alemão.
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Outro dia um camarada meu me encontrou na rua e, ao responder o “e aí, tudo bem” habitual dos começos de conversa com um “maior merda, terminei com a minha namorada um dia antes do reveillon, estou sofrendo pra caralho”, me perguntou o que eu achava que ele devia fazer.
Eu respondi “fica em casa, quietinho e chora, ué”.
Ele me olhou como quem esperava algo mais de um psicólogo.
De qualquer forma, tenho certeza que ele deve ter seguido o meu conselho.
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Fiz esses versos ontem, depois do filme...
Perto e Longe
Longe
Longe
Bem longe
Lá onde
O olhar se cansa
De espichar
É lá onde
Se esconde
O que não me canso
De esperar
Decerto
Perto
Aqui
Bem perto
Onde
Mal estico o braço
E já posso
Alcançar
Reside
Um cheiro incerto
Um tédio
Um beijo morno
Um sussurro
E o mistério
Do que será que
Ao longe
Me espera e se esconde
Do meu olhar
Lá
Lá longe
Onde
O vento faz a curva
A nuvem fecunda a chuva
E o sol vai deitar
É lá onde a morte
Inerte em paz
Nada mais faz
Além de me espreitar
Decerto
Quando
Estiver perto
Bem perto
Já não serei capaz
De ver a morte chegar
Pois para trás
Lá atrás
Bem longe
Voltar-se-á meu tédio
Meu sussurro
E o brilho
Do meu olhar.
As imagens abaixo são de um ato que aconteceu ontem no Centro do Rio em solidariedade ao povo Palestino. Cerca de 500 pessoas se reuniram e partiram rumo ao Consulado dos EUA. Lá, a tropa de choque da PM já os esperava. Os manifestantes atiraram sapatos na filial brasileira dos Estados Unidos, queimaram bandeiras, mas felizmente não houve confronto com a polícia.
O ato estava surpreendentemente cheio. Coisa rara aqui no Rio. Até nosso geógrafo-noivo estava. Ombudsman muito bem representado, só faltou Bodão.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Mas eu fui pensando, e a medida em que pensava me entristecia. Acabei fechado num silêncio nublado e choroso.
Nem tanto pelo filme em si,muito bom por sinal, mas ao pensar nos dias de hoje a partir do que fora exposto na tela.
Dá um misto de raiva e torpor pensar que o mesmo espectador que se contorce ao ver as torturas realizadas naquele período fatídico da ditadura, as mesmas mentiras seja na execução sumária do Marighela, quando os militares alegaram a ocorrência de um confronto armado, seja no momento em que frei Betto é surpreendido durante o noticiário pela acusação mentirosa de ter tramado a libertação de Lamarca e outras ações, e pensar que esse mesmo espectador não especula sobre a continuação dessa forma de agir nos dias atuais, voltados agora para os moradores da favela e os traficantes, transformados em gênios do crime e de uma periculosidade digna dos vilões da Marvel. Pior que não duvidar,muitos espectadores revoltados desse filme, poucas horas depois, podem perfeitamente ter aplaudido uma operação/chacina policial e aceitado a morte de crianças por balas de fuzil disparadas por policiais como efeito colateral de uma guerra necessária.
E esse pensamento me entristece, mais até do que enraivece.
Dá em mim, sinceramente, uma vergonha azeda de ser branco, oriundo da classe média, de ter carro, de ser respeitado por ter concluído um curso superior numa instituição pública de ensino, de morar na Glória num apartamento maneiro... sem sacanagem, dá vergonha...
Vergonha e uma certa solidão, pois é cada vez mais difícil conversar com a maioria dos meus amigos de infância e de tempos nem tão remotos, com seus ideais naziclassistas-pequeno-burgueses...
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Outro dia fui em Copacabana com uns turistas baianos que queriam levar a filha para ver aquela merda daquela roda gigante do posto 6. Choveu e paramos para tomar um chopp. Fiquei pensando que por entre aquela horda de gringos ardidos com a pele em brasa com suas roupas e expressões escrotas existiriam, dentre os coroas que ali bebiam, possíveis torturadores ou gente que de algum modo apóia esse tipo de coisa, o que no fundo dá no mesmo.
Confesso que quando me ocorre esse tipo de coisa, eu fantasio ser um desses serial killers americanos e metralho a corja enquanto grito alguma frase emblemática treinada no espelho do banheiro...
Copacabana, tirando as putas, os travecos, as gostosas, a praia, os botecos pés sujos e seus bêbados e traficantes e aviões, e alguns moradores/frequentadores pinçados a dedo, me entristece e enoja.
Meu sonho é botar os velhos milicos para jogar peteca com uma granada destravada.
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Outra cena lamentável do filme é ver médicos e padres, cardeais ou bispos, corroborando e colaborando com a barbárie.
Sem sacanagem, esses médicos estudaram medicina como quem faz curso técnico para bombeiro hidráulico, sei lá; e esses padres... bom esses padres não leram a história de Cristo. Ou pior, leram e não entenderam.
Na melhor das hipóteses.
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Eu queria na minha primeira postagem do ano escrever algo mais alegre, mais entusiasmado. Mas não deu.
E não foi culpa do filme.
Se meu “feliz 2009” ficou engasgado na garganta, esse nó quem deu foram os filhos da puta e Fleurys reais de carne e osso e sandálias havaianas que pululam das cartas dos leitores e conversas triviais e que insistem em não aprender com a ficção.
Ou, pior, vivem noutro registro de ficção e realidade.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Shministim
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Somos todos palestinos II
*
*
Hoje, somos todos palestinos*
"Sou palestino. Palestino não tem olho? Não tem mãos, órgãos, altura, peso, sentidos, afeições, afetos, paixões? Não come a mesma comida, não morre pelas mesmas armas, não padece as mesmas doenças, não se cura pela mesma cura, não se aquece no mesmo verão e não congela no mesmo inverno, como o judeu? Se nos furam, não sangramos? Se nos fazem cócegas, não rimos? Se nos envenenam, não morremos? Se nos fazem mal, não nos podemos defender? Se somos iguais em tudo, não reclamem de sermos iguais também nisso… A vilania que nos ensinaram, nós a aprendemos; seremos vis; menos vis que vocês, sim, porque viemos depois. Aprendemos com vocês, mas a vilania purga-se, no tempo. Mais do que isso, não posso prometer."
- Há uma resolução da ONU que determina a existência de um Estado da Palestina e um de Israel;
- Os EUA vetaram essa resolução no Conselho de Segurança;
- Israel optou por levar adiante uma guerra que já dura 40 anos;
- A mídia ocidental diz que a guerra está fincada no fundamentalismo religioso. Essa mentira legitima o assassinato de muçulmanos, o preconceito e mais mentiras sobre os povos do Oriente Médio e sua religião;
- Alguns estudiosos andam afirmando que pensar dois Estados separados é inviável. Afirmam que só haverá paz quando for criado um Estado onde os dois povos convivam
- Eu não sei qual é a solução. Eu só sei que enquanto existirem explorados e oprimidos a paz não existirá;
- E é isso que Israel busca ao perseguir o Hamas, movimento democraticamente eleito pelo povo Palestino: opressão;
- Como bem disse o professor Gilson Caroni: “desde o massacre no Sul do Líbano, em 82, passando pelo sufocamento de duas intifadas, não é o terrorismo de fanáticos que Israel persegue. Na região conflagrada, o movimento palestino era o mais progressista projeto de resistência, o mais prenhe de valores da modernidade. O mais rico em termos culturais. As pedras dos jovens árabes defenderam da insanidade uma herança cara ao Ocidente”;
- Nunca é demais lembrar que a Faixa de Gaza mede
- Esse é o povo (de forma bem resumida), que sem Estado e sem liberdade, submetido há 40 anos ao poder de fogo do mais poderoso exército de ocupação do mundo, reclama por sua independência, liberdade e vida, atirando foguetes de quintal;
- A resposta vem em mísseis que matam 500 pessoas em uma hora;
- O G-
- Afinal de contas, há muito deixamos de viver motivados por sentimentos. O que nos move, o que nos dá vida e o que rege estas vidas, é ele: o capital.
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Tem uma galera com um blog direto de Gaza, o Moments of Gaza. Vale a pena ler, já que Israel proibiu a entrada de jornalistas na região: http://gaza08.blogspot.com/
* A expressão do título é do sociólogo Emir Sader
** Muitas das informações aqui presentes foram tiradas da excelente cobertura da Agência Carta Maior sobre o tema
domingo, 4 de janeiro de 2009
shhh....
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
(...)
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece
Mas, em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto
Mário Quintana
Ele tinha esse poder estranho de fazer calar o mundo. Era assim: quando aqueles braços encontravam minhas costas ou minha nuca, o sol já não queimava, o trânsito desaparecia e até as ondas ficavam mudas. E de repente, não mais do que de repente, passou a puxar meu lençol à noite. Fez-se a multiplicação dos travesseiros e mais adiante da escova de dente. Meio alto, uma dobra na orelha, olhar profundo, dedos que hipnotizam e aquele peito que acalenta. Os braços eram grandes, os ombros largos e as pernas finas. Mas minha vó dizia que homem de perna fina é homem trabalhador. Decidi encarar aquele gigante trabalhador. E fomos pros primeiros. Ah, se na vida tivéssemos dois primeiros de tudo. O primeiro beijo, o primeiro cheiro, o primeiro entrelaçar de pernas, o primeiro vinho, o primeiro melindre. O primeiro dia seguinte. Enfrentei o gigante. Que virou pequenino. Um pequenino post-it grudado permanentemente nas páginas do meu cotidiano, onde se lia apenas nós. E tudo era novo e eu não tive nem tempo de ler o manual de instruções. Essa minha mania de manuais. Deixa pra lá. Senta aqui. Aprende sem ler. Olhei bem e vi que não era tão complicado. Plug and play. Pluguei. Brinquei. Jogo que vai, jogo que vem. Até que não consegui abrir os últimos botões. Me ajuda com essa camisa? Mas o que é isso? Guia vermelha? Ele é filho de Xangô. Ah, se na vida tivéssemos dois primeiros de tudo. Xangô não se dá com Ogum, pois, como é sabido, roubou sua mulher. Ficaram os dois travesseiros mais altos, os meus. O resto não importa. Joga no baú. Ah, se na vida tivéssemos dois primeiros de tudo. Teria um consolo. Esse barulho do mundo incomoda. A vida vai sem metáforas, mas não desisto de achar meu silêncio.
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doismilenove começa amanhã com a volta ao trabalho. hoje passei o dia com a leve impressão de que ainda estava no dia primeiro. acabou o milho, acabou a pipoca, mas eis aqui o verão e ainda tem o carnaval. janeiro é um bom mês. tomara que faça sol; tomara que minha voz volte; tomara que um anjo pague meu cartão de crédito estourado nos últimos dias; tomara que a cerveja esteja gelada e tomara que as terças, quartas e quintas se multipliquem.
bom, mas se nada disso acontecer, vai me restar sambar na chuva, sem cantar, tomando caipirinha aos sábados, sextas ou domingos e ainda ter que pedir para um amigo me bancar. nada de novo em 2009. então, feliz ano velho para vocês.