quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Drogas: Diga Não!

Hoje, conversando com bodvéi, ele disse estar pensando seriamente em cancelar a assinatura do jornal O Globo. Num blog vizinho e amigo do Ombudsman, o Blog do VQ, tá lá esse texto, postado por Samir Resende. Acho que vem a calhar, e quem sabe, ajudar o amigo Bodão na sua decisão.

Por Samir Resende
Nesta semana tomei uma decisão muito importante na minha vida: resolvi abandonar as drogas. Liguei pro serviço de atendimento e cancelei a minha assinatura do jornal O Globo.

Foi uma decisão muito difícil, tenho que confessar que me habituei acordar pela manhã e ter aquele panfleto debaixo da minha porta. Mas, o que me levou a tomar tal decisão foi, além do entorpecimento diário por informações tendenciosas, o tratamento que o jornal anda dando ao processo de Reformas Constitucionais que acontece nas vizinhas Bolívia e Venezuela.

É muito escroto um país que tendo uma potencialidade imensa como o nosso ainda não tenha resolvido 10% dos seus problemas; onde os poderosos não vão presos; onde a desigualdade mata milhares de pessoas, onde a corrupção graceja; onde as diferenças são estigmatizadas; onde o leite é adulterado e onde as meninas são presas e estupradas... Mas, mais escroto ainda é querer dar palpite na vida do vizinho quando nosso quintal tá todo emporcalhado.

E é isso que a inteligentzia nacional faz: arrota indignação contra as reformas que aqueles índios lá dos Andes querem fazer nas suas vidas. E o estandarte-mor desta ignomínia é a grande imprensa brasileira – personificação histriônica da imbecibilidade nacional.

Darcy Ribeiro, na sua grande obra, nos presenteia com uma concepção de Povo Brasileiro que há muito me fascina. Fruto de uma simbiose entre o ameríndio nativo, o europeu ibérico e os africanos escravos, nossa ontologia ficou marcada por uma saudável mistura e à nossa gente estaria reservado um virtuoso e destacado papel ao romper da modernidade.

Acontece que a grande mídia, a comunicação hegemônica, está destruindo esta visão idílica que Darcy nos deixou de herança. Parece que o consumo contínuo das informações manipuladas entupiu as nossas idéias, como um THC ideológico que se aloja no cérebro e nos torna subservientes e abobados. Taí a “produção cultural” da Rede Globo que não nos deixa mentir; parece que a única “cultura” que temos, nos 8,5 milhões de km2 de Brasil é aquela que se desenrola na zona sul carioca

Deixemos a Venezuela em paz! Deixemos o índio Morales numa boa! Os caras tão tentando mudar uma história de 500 anos de dominação e opressão, com instituições viciadas e massacrantes. E, em nenhum momento a sua população está de fora do processo; pelo contrário, todas as modificações constituintes passarão por referendos e plebiscitos.

Quero ver as Organizações Globos e outros jornalões fazerem a mea culpa sobre o atraso histórico que legaram ao ethos nacional. Quero ver a mídia ir além de apontar as nossas cagadas, mas sim denunciar o motivo da nossa dor de barriga. Apontar o que tá errado é fácil, o difícil é denunciar a razão. E uma coisa eu tenho certeza: a culpa é do sistema que escolhemos! Então, se outro mundo é possível, deixe o coronel perguntar ao seu povo se é isto que eles querem, catzo! E viva Bolívar!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

TV Pública

A galera do Planalto divulgou os nomes daqueles que irão compor o Conselho Curador da TV Pública. Eis os nomes:

Ângela Gutierrez - empresária e empreendedora cultural
Cláudio Lembo - ex-governador de São Paulo, advogado e professor universitário
Delfim Netto - ex-ministro, ex-secretário estadual de São Paulo, ex-deputado e economista
Irma Vieira - diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi (PA)
Isaac Pinhanta - professor indígena da tribo dos Ashaninka (AC)
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) - empresário, ex-diretor da TV Globo e atualmente é consultor desta empresa
José Martins - engenheiro mecânico e empresário
José Paulo Cavalcanti Filho - ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça e ex-presidente da Empresa Brasileira de Notícias
Lúcia Willadino Braga - diretora da Rede Sarah de Hospitais
Luiz Edson Fachin - especialista em Direito de Família
Luiz Gonzaga Belluzo - ex-chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda e ex-secretário estadual de São Paulo
Maria da Penha Maia - que teve o nome divulgado em todo país na Lei Maria da Penha que aumenta o rigor das punições contra agressões às mulheres
MV Bill - cantor de rap e autor de livros e documentários
Rosa Magalhães - carnavalesca e artista plástica
Wanderley Guilherme dos Santos - pró-reitor de Análise e Prospectiva da Universidade Cândido Mendes


Olha tem uns que eu nem conheço e já não gosto. Dos que conheço, só salva o Wanderley Guilherme dos Santos.

O presidente e suas trapalhadas no campo da comunicação...ai ai ai!

sábado, 24 de novembro de 2007

NÓS

Nos dias correntes, cada vez mais, vemos o acirramento de conflitos, senão deflagrados, potencializados a partir de posições e classes sociais. De um lado, um processo gritante de criminalização da pobreza e propagação de preconceitos e discriminações para com as favelas, periferias e seus moradores. De outro, a condenação das classes média e alta como principais incentivadoras dessas ações e declarações públicas.

Bem, longe de mim querer negar essa, digamos, oposição que modela o capitalismo enquanto gerador de opressão e desigualdade. No entanto, existem certas particularidades e nuances equivocadas nesses discursos. E mais que equivocadas, injustas e contraproducentes.

Encontros fortuitos

Neste final de semana super prolongado, quando começamos homenageando a República e terminamos celebrando Zumbi e a Consciência Negra, um encontro fortuito foi quem deu origem a essa divagação.

Na casa de veraneio de minha família, estávamos eu, morador da Glória, criado em Icaraí, bairro da zona sul de Niterói, e dois amigos, Fábio, ex-morador da Maré, atualmente residindo no Irajá, e Rodrigo, nascido e criado na Rocinha.

Altas horas da madrugada, já um tanto embriagados de cerveja, música e do clima da roça, nos demos conta que, apesar de nossas origens e implicações heterogêneas, compartilhávamos de diversas opiniões e pontos de vista acerca das questões políticas e sociais contemporâneas. Mais do que isso, nos percebemos num mesmo barco, lutando, em nossas carreiras e estudos, por um mesmo ideal de uma sociedade mais justa e igualitária.

Sem dúvida, as razões que me levaram a ascender a tal posição são diferentes das deles. Do mesmo modo, embora possamos apontar mais semelhanças em suas histórias de vida, as vicissitudes e experiências que os moldaram e construíram são distintas.

Não obstante, na proliferação de encontros fortuitos como esse é que nos reconhecemos juntos no mesmo pedaço do caminho.

Mãos dadas

Assim como esse momento retratado na digressão acima, não podemos generalizar e simplificar o problema da desigualdade tratando-o, univocamente, como uma questão de classe, correndo o risco de perdermos aliados importantes. Acredito, antes, que o diálogo e a incorporação de implicações distintas e contribuições variadas dos diversos setores da sociedade fortalecem as reivindicações e ampliam o poder de alcance dos argumentos.

Ao contrário, quem tem a ganhar, maquiavelicamente, com o recrudescimento de posições antagônicas e a divisão dos que se opõem ao quadro atual são, justamente, seus defensores. Além disso, uma postura reativa que dá o troco e responde com a mesma moeda, afastando possíveis aliados por conta de preconceitos invertidos, ao invés de combater a lógica da discriminação e da hierarquização da vida humana, a reforça e legitima.

Como já dizia o saudoso poeta de Itabira, Carlos Drummond de Andrade:
“O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”


(...) ou senão, quando no futuro olharmos para trás, podemos acabar lamentando o tempo perdido e recorrendo a outros versos.


Rodrigo Nascimento, Núcleo de Violência e Direitos Humanos do Observatório de Favelas

http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatorio/index2.asp

Manifesto Hip Hop

O manifesto a seguir, assinado por: Coletivo de Hip Hop Lutarmada, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, FLP, MST, MNLM e Marcha Mundial das Mulheres. Será panfletado em diversas atividades do festival Hutuz, que está acontecendo no Rio:
22/11 - Canecão e Fundição Progresso (encontro na Fundição às 19h)
24/11 - às 22h no Circo Voador (neste dia haverá show de MV Bill)
25/11 - às 22h no Circo Voador (neste dia haverá show da Facção Central)
Ainda no dia 25/11 haverá o "Hip Hop Santa Marta" a partir das 14h, na
favela em Botafogo, e panfletagem do manifesto. Tentaremos ainda garantir panfletos para o Batendo de Frente nos dias 1 (grafitagem na Av. Presidente Vargas, altura do sambódromo, a partir das 13h) e 2/12 (Av. Paris, 649 - Bonsucesso, passarela 7 da Av. Brasil).
O Lutarmada pede o engajamento militante nas panfletagens.

Falcões ou tubarões :
Quem são os meninos do tráfico?

Você deve saber que a coca e a maconha são plantadas bem longe das favelas.
Depois elas passam por um processo químico em laboratórios que não ficam
dentro de nenhuma favela. Depois desse refino, a coca, já transformada em pó de cocaína, atravessa as fronteiras e entra no país, para, a partir daí, da
mesma forma que a maconha, serem transportadas por rodovias federais e
estaduais, ou pelo mar. Só depois de todas essas etapas é que a droga é
embalada e vendida no varejo nas favelas.
Se em todo o processo, da produção ao consumo, a menor parte fica com a
favela, por que será que combate ao tráfico na nossa sociedade é sinônimo de operações policiais em favelas?
Por dois motivos:
1) enquanto a sociedade acreditar que prendendo ou matando um favelado está se tirando de circulação um traficante, alguns senadores, deputados, prefeitos, secretários estaduais e municipais, ministros e empresários, que são os verdadeiros responsáveis pelo tráfico e beneficiários do grosso do rendimento desse comércio ilícito, continuarão livres e intocáveis em seus cargos e mansões.
2) atribuir à favela a responsabilidade pelo narcotráfico, serve para justificar a violência com a qual o Estado, através da sua policia, age nessas comunidades.
Por isso, o discurso de que traficante é favelado, tem que ser combatido,
principalmente por quem é morador e moradora de lá.
Mas, ao contrário disso. MV Bill e Celso Athaide produziram um filme que muito bem serviu para legitimar esse discurso perverso. Com o título "Falcão. Meninos do tráfico" o documentário esconde o perfil dos verdadeiros traficantes, que vivem em luxuosas mansões e coberturas, e expõem aqueles que estão na ponta do processo vendendo a droga e portando as armas que, também não são fabricadas nas favelas.
Quando o governador fascista do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, diz que mulheres faveladas são fábricas de marginais, entendemos que essa mensagem veio preparar o terreno para a ampliação do foco da sua política de extermínio, que até agora, mínima e relativamente, preservou essa parcela da população, que são as mulheres moradoras de comunidades pobres.
Foi quando a declaração do governador estava no auge da sua repercussão, que a imprensa começou a divulgar o novo documentário da dupla Celso/Bill. Pelo nome do novo projeto, "Falcão. Mulheres e o tráfico" pode-se esperar algo parecido com o documentário que o antecedeu.
O filme, combinado com a declaração do governador, prometem ser um ótimo argumento para legitimar a política de extermínio contra a mulher favelada, anunciada nas entrelinhas das ações e declarações de Sergio Cabral.
Entendemos que um documentário que se proponha a fazer revelações sobre o submundo do narcotráfico, deva sair das favelas e passar pelos gabinetes do legislativo, executivo e judiciário, pelas mansões e coberturas da Barra, Alfaville, e outros bairros nobres do país.
Entendemos que fábrica de marginais são as políticas de educação, habitação, saúde, trabalho, infra-estrutura, segurança, etc. do Estado - que no filme "Falcão" é isentado pelo MV Bill, de qualquer responsabilidade sobre a violência.
Essa é apenas uma peça de um enorme quebra-cabeça, que é esse processo já bem avançado de criminalização da pobreza - organizada, ou não - no campo e na cidade. Precisamos estar unidos e organizados. Só assim poderemos enfrentar essa ofensiva da classe dominante que, infelizmente, tem muitos de nós entre seus aliados.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Tempos difíceis...

Tempos difíceis, minha gente. Mas, "logo mais a gente goza"...


calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa





moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia
vai vir o dia

quando tudo que eu diga
seja poesia


Leminski



quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Capitão Nascimento de São Paulo

Quinta-feira à noite. Cidade de São Paulo, boate Vegas, rua Augusta. O distrito policial é o 4º, localizado na Marquês de Paranaguá. Já localizados, vamos ao assunto. Uma mulher, roubada dentro da boate, pede ajuda à segurança, depois a um policial, é agredida pelo policial, vai à delegacia, não é atendida, na saída é agredida por um grupo de policiais. Um deles se autoproclama “Capitão Nascimento”. Abaixo o email detalhando os fatos.

"
Um encontro com o Capitão Nascimento na vida real
1 - Uma breve história de terror
2 - Alguns comentários sobre Tropa de Elite após meu encontro com o Capitão Nascimento
3 – Um bom conselho

1 – A história
Na semana passada, fui numa festa na rua Augusta, na região central. Quando eu estava me preparando para ir embora um sujeito simplesmente roubou meu celular da minha mão. Com uma rapidez incrível.

Com a mesma agilidade fui atrás do segurança da casa, contei o que tinha acontecido e pedi para ele fazer alguma coisa. Naquele momento não seria difícil achar o cara que roubou o celular. A casa já estava relativamente vazia e eu indiquei o lugar que ele estava.

Resumindo: o segurança não fez nada e todos (funcionários da casa) acharam melhor que eu saísse rapidamente, mesmo sem pagar. Não porque eu tinha sido roubada e eles estavam sendo generosos. Mas sim porque não queriam tumulto. (um pequeno detalhe importante: na entrada todos foram revistados – portanto, não seria nada estranho, naquele ambiente, revistar um suspeito).

Assim que eu saio, vejo um casal (que fica na porta da casa recebendo o público) e um policial.
Primeira cena de terror. Obviamente me dirigi ao policial relatando o que tinha acabado de acontecer (o roubo) e pedindo para ele me ajudar. Ele não se mexeu. Quando, então, eu perguntei se ele não ia fazer nada. Ele fez. Deu um soco na minha cara. Isso mesmo, um soco na cara de uma mulher, em plena rua Augusta, na frente de várias pessoas (testemunhas). Fiquei tão perplexa que nem senti dor. Só percebi a força do soco, no dia seguinte, quando vi a marca da mão do policial na forma de uma macha roxa estampada no meu rosto.

Perguntei: você percebe o que você fez? Ele percebeu, sim. Porque deu outro murro na minha cara. Com a mesma violência.

Imediatamente atravessei a rua e entrei num táxi. Quando eu pedi para ele me levar para a Delegacia, ele falou que não podia ir, ia complicar para ele. Pedi, então, que ele me deixasse numa rua próxima da Delegacia.

Chegando na delegacia falei para o sujeito de plantão que queria fazer duas queixas: o roubo do celular e o soco do policial.

Ele me mandou esperar alertando que o delegado não tinha hora para chegar. Mas sugeriu que, se eu estava tão indignada, deveria ir a corregedoria. Resolvi ir. Ele não me deu o endereço, mas apenas algumas indicações, do tipo: pega esquerda, direita etc etc, tudo bem confuso.

Segunda cena de terror. Quando chego na rua, em frente a delegacia, encontro um grupo de policiais. Todos jovens, com a roupa engomada, cabelo curto, bem cortado (parecia um grupo de réplicas do personagem do Wagner Moura). Um deles se aproximou de mim e falou: ninguém vai denunciar um colega meu. Armou um sorriso idêntico ao do personagem do Wagner Moura, no filme Tropa de Elite. Estufou o peito e falou: “Meu nome é capitão Nascimento”. Ao mesmo tempo, apontou um spray de gás de pimenta e acionou na minha cara. Simples assim. Para alegria geral das réplicas do personagem do Wagner Moura. Todos acharam muito divertido. E riram muito!

Antes de partir para a segunda parte desse e-mail, alguns comentários:

1 – a sensação é terrível. Arde muito e por muito tempo.

2 – como o plantonista me alertou, se um dia acontecer com você, não faça nada e muito menos coloque água. Cada vez que você pisca, a dor piora. Arde ainda mais. No dia seguinte, seus olhos se transformam em duas bolas enormes.

3 – o plantonista, como um típico representante da polícia do século XX, teve como maior preocupação descobrir, sem qualquer sutileza, onde eu morava, se eu tinha parentes importantes; enfim, que tipo de poder eu tinha. Preocupação inútil. Esse tipo de “proteção” não tem valor nenhum, atualmente.

4 – antes que alguém faça uma crítica, gostaria de falar que eu nunca concordei com essa polícia que só funcionava para quem tinha influência. Faço parte da população, que acredita que a polícia deve respeitar todo mundo e não deve agir com violência com absolutamente ninguém.

2 - Alguns comentários sobre Tropa Elite após meu encontro com o Capitão Nascimento
Quando eu assisti Tropa de Elite fiquei fã do filme. Entendi que se tratava de uma crítica a uma situação de violência e tudo o mais.

Mas depois dessa experiência acho que o filme detonou uma situação terrível.

Agora, a polícia sente uma aprovação por agir com violência. Os policiais se identificam com o capitão Nascimento e se sentem heróis por serem assim. A expressão de prazer e poder do capitão Nascimento que eu conheci, pessoalmente, nunca vai sair da minha cabeça.

Certamente, antes do filme nenhum policial daria um murro na cara de uma mulher no meio da rua, com várias testemunhas ao lado. E muito menos jogaria um spray de pimenta na cara.
Esse tipo de atitude era reservada para os moradores da periferia. Era uma coisa vergonhosa, que deveria acontecer longe, escondida.

A sensação geral era de desaprovação. Ou seja, era péssimo ter uma polícia que desrespeitava quem não tinha um pequeno poder para se defender. Hoje, eu preferia mil vezes ser uma gringa assistindo Tropa de Elite.

Ver o filme, por que eu gostei, mas sem ter que viver na pele as suas conseqüências. Que obviamente não são culpa do diretor. Que pretendia justamente o contrário. Que fosse uma crítica que alertasse sobre o absurdo dessa violência. O filme funcionou como uma espécie de catarse, que liberou a violência. Portanto, cuidado. Você pode ser a próxima vítima. Hoje, quem manda na cidade é o capitão Nascimento.

3 – Um bom conselho
Se um dia você estiver andando pela região central e encontrar um senhor com cerca de 60 anos, um metro e cinqüenta de altura e uma dignidade típica dos vendedores da revista Oca (ex-pessoas de rua, que, agora, com essa revista, estão readquirindo a dignidade) cumprimente-o, ofereça uma carona, um jantar, o que for.

Esse homem, que surgiu do nada, ficou cerca de 2 horas ao meu lado, me apoiando, me ouvindo, conversando e cuidando de mim.

Esteja certo que se você precisar – e parece que nesses tempos atuais, não será nada impossível que você precise – ele ficará do seu lado. O tempo que você precisar.Gostaria muito de reencontrar esse homem.

Naquela hora ele foi tudo para mim. Imagine só a minha situação. Para quem eu ia telefonar? Pros meus pais? E falar: acabei de levar um murro de um policial? Eles ficariam arrasados e iriam imediatamente para a delegacia. E nesses tempos de Capitão Nascimento, não duvido nada que meus pais também levassem um murro na cara. Ou um jato de spray de pimenta nos olhos.
"

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Hino do Flamengo (versão em inglês)

http://www.youtube.com/watch?v=7irfMS2L_Q8

Veja, Che e Polêmica

Recentemente agora (se é recente, é por agora, oras), rola pela internet, em blogs de jornalistas, uma polêmica que envolve nossa querida (?) Veja, revista semanal de maior tiragem no Brasil. Diogo Schelp, jornalista da revista, escreve uma matéria sobre Che Guevara, e se baseia bastante em um livro de Jon Lee Anderson, repórter da revista New Yorker e autor do livro “Che Guevara, uma Biografia”.

O repórter estadunidense diz que respondeu foi procurado para uma entrevista durante a apuração, feita por email pelo repórter brasileiro. O brasileiro diz que não recebeu, que deve ter sido encaminhada como spam por seu email (do jornalista da Veja). Mas na sua carta resposta à Jon Lee, disse que o mesmo tem o telefone dele (o que me faz crer que ele tambémtem o telefone do jornalista dos Estados Unidos, o que me parece ser, no mínimo, apuração mal feita). O livro de Jon Lee é citado na matéria da Veja como “a mais completa biografia de Che”. Abaixo reproduzo a carta, após a veiculação da matéria, de Jon Lee Anderson (enviada para a revista Veja e para alguns jornalistas brasileiros, no dia 23 de outubro), e abaixo a réplica do Diogo Schelp. Os emails foram veiculados no blog de Pedro Dória (de Jon Lee, no dia 12/11)) e de Reinaldo Azevedo (resposta de Diogo Schelp, no dia 14/11).

Carta de Jon Lee Anderson

Caro Diogo,

Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu email. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hiper editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei pôr pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é. Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista. No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.

Cordialmente,
Jon Lee Anderson.

Resposta de Schelp

Caro Anderson,

Eu fiquei me perguntando, depois de lhe enviar um e-mail pedindo (educadamente) uma entrevista, por que nunca recebi uma resposta sua. Agora sei que a mensagem deve ter-se perdido devido a algum programa antispam ou por qualquer outra questão tecnológica. Também não recebi sua “carta” – talvez pelo mesmo problema. Tudo isso não tem a menor importância agora porque você resolveu o assunto valendo-se dos meios mais baixos – um e-mail circular. O que lhe fez pensar que tinha o direito de tornar pública nossa correspondência, incluindo a mensagem em que eu (educadamente) pedia uma entrevista? Isso, caro Anderson, é antiético. Vindo de alguém que se diz um jornalista, é surpreendente. Você pode não gostar da reportagem que escrevi; ela pode ser boa ou ruim, bem-escrita ou não, editorializada ou não – mas não foi feita com os métodos antiéticos que você usa. Eu respeito a relação entre jornalistas e fontes. Você não. E mais: parece-me agora que você é daquele tipo de jornalista que tem medo de fazer uma ligação telefônica (assim são os maus jornalistas), já que tem meu cartão de visita e conhece meu número de telefone. Se você tinha algo a dizer sobre a reportagem — e já que sua mensagem não estava chegando a seu destino — poderia ter me ligado.

Eu não sei que tipo de imagem de si mesmo você quer criar (ou proteger) negando os fatos que o seu próprio livro mostra, mas está claro agora que é a de alguém sem ética. Você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista.

Sem mais,

Diogo Schelp

Veja a matéria da Veja
http://veja.abril.com.br/031007/p_082.shtml

terça-feira, 13 de novembro de 2007

respondendo meiazero

não é de hoje que a preguiça
é pra amanhã

e tem tempo que já nem faz tanto
tempo assim...

É hora!

É hoje!

Agora!




peço outra

encho copo

reviro bolso

acendo cigarro






... aguardo...





é tanto trabalho que nunca acaba
e eu ainda agradeço

é tanto esforço por nada
que eu mereço

altos...


licença...






... aguardo...



e enquanto aguardo

escapo

mexo

remexo

deito

os olhos num pé de vento

e do nada

invento


versos

- que nada são além de um jeito
de passar o tempo desfrutando
a minha mais profunda e perfeita

inutilidade...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

IV (Temporal)

tudo o que de mim encontro acesso
vejo vir e vivo pelo avesso
com a contradição dos tantos versos
fecundando verbos e adereços

na pressão tão turva e incontida
desse ser que em mim somente some
quero ritmar numa batida
tudo o que me cria e me consome

eu bem sei não ser tão execrável
e quando posto em praça pública não me espanto
porquanto ouço o canto comovido e instauro
o surto onde me embalo e onde me encanto

não posso me dizer nem tão sortudo
e nem mesmo sou assim tão azarado
confundo tudo e dublo o absurdo
com a voz altissonante do meu brado

se a imagem cujo eu me vem do espelho
intenta persuadir-me pela entrega
eu jogo-a de volta pronde veio
e vivo a afirmação que em si me nega

e nessa revoada de delírios
contemplo isso que dentro em mim desperta
os versos desvairados onde insiro
os nomes da paixão que me liberta

sem mais então eu forjo a completude
para perdê-la sempre um passo a frente
trazendo seus efeitos e atitude
na luz da inspiração intermitente

ao longe alguém sempre me aplaude
e me solta mesmo quando alguém me prende
acorda o turbilhão de liberdade
neste homem que até a morte não aprende

persistindo na empreitada desmedida
tão cheia de tolice engano e afronta
está o preço que esta louca vida
cobra de mim por cada estrofe pronta

Rodrigo Bodão

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

EEEEEIIIIIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAAA

não é de hoje
que a preguiça é pra amanhã

e tem tempo que já nem faz tanto
tempo assim...

É hora!

É hoje!

Agora!




Peço outra

encho copo

reviro bolso

acendo cigarro









... aguardo...




Rudrig Bodado

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Brasília, o horror e Nicholas Behr

Como só eu posto nessa joça, vamos lá...

Hoje pela manhã me embrulhava o estômago ao escrever sobre a Megaoperação no Complexo do Alemão em junho e sobre as recentes execuções na Favela da Coréia. Parei de escrivinhar por um instante e fui ler o "Prosa e Verso" (caderno literário do Globo), de sábado. A matéria principal era sobre o lançamento do livro de Nicholas Behr. Ele é um poeta que vive em Brasília e tem vários poemas que tratam da cidade, sua estética peculiar e sua sujeira intrínseca.

Conheci a obra de Behr por intermédio de uma amiga que tem muito bom gosto. Ela é de Brasília, também. Então, para as saudades (e as outras coisas) de Brasília e para a indignação do Alemão, Nicholas Behr:

O HORROR, O HORROR

como, depois de ler nos jornais a notícia
da morte do menino que foi torturado
com óleo quente para revelar o paradeiro
do pai, escrever um poema?

como se olhar no espelho?
como dividir com vocês todos
esse ar que respiramos?
como ficar indiferente e passar à próxima página?
como sair na rua e desejar bom-dia
aos que passam?
como continuar vivendo?



• • •



quem mandou fechar o gás?
será que você não viu
que ainda tô vivo?



Dá pra ler trechinhos do livro dele em: http://www.linguageral.com.br/site/downloads/titulos/56.pdf

sábado, 3 de novembro de 2007

Ah, eu já sabia!

Deu na Folha de São Paulo de ontem. Nenhuma novidade. Mas, vale divulgar.


Laudo aponta execução sumária no Alemão

Laudo independente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, feito a pedido do próprio governo do Rio, aponta que, "com grau de certeza", houve "execução sumária e arbitrária" dentre as 19 mortes que ocorreram durante operação policial, em junho, no conjunto de favelas do Alemão, na Penha, zona norte do Rio.
Segundo o documento, em ao menos duas mortes, as de José da Silva Farias Júnior e Emerson Goulart, "foram encontradas evidências de morte por execução sumária e arbitrária". O governo do Rio contesta a avaliação.
A perícia independente indicou ainda que cinco dos mortos foram atingidos por tiros de curta distância e que, em 14, foram encontrados 25 tiros que os atingiram pelas costas.
O laudo concluiu ainda que seis dos mortos foram baleados no crânio e na face, e que os 19 mortos foram atingidos por pelo menos 70 tiros, sendo 75% em regiões mortais.
A análise pericial independente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República foi enviada ontem ao governo do Rio.
No material estudado, os peritos afirmam ter achado "argumentos para embasar a afirmação de existência de execução sumária e arbitrária, quando analisados em conjunto".
De acordo com os técnicos contratados pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o grande número de orifícios de entrada na região posterior do corpo, os numerosos ferimentos em regiões letais e a elevada média de disparos por vítima embasam a conclusão.
Outros indicativos são proximidade de disparos, seqüência de disparos em rajada e armas diferentes utilizadas numa mesma vítima.
Ainda de acordo com os peritos, o material analisado aponta ausência de condutas destinadas à captura e ausência de indicadores de condutas defensivas por parte das vítimas.

Pergunto: a situação do Rio de Janeiro melhorou depois das 19 execuções no Alemão, em junho? O Estado já ocupou o Complexo? Se não, quando vai conseguir ocupar "na bala"?