a panela de acarajé de regina, no rio vermelho
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todas as boas energias amanhã para o Circulando 5. tudo junto no Alemão.
POESIAS DEVANEIOS DESVARIOS
a panela de acarajé de regina, no rio vermelho
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todas as boas energias amanhã para o Circulando 5. tudo junto no Alemão.
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É importante que você saiba que isso que você vai ler aqui é um devaneio de um jovem de vinte e alguns anos que tanto assim viveu porque conseguiu fazer uma manobra radical com sua bicicleta quando esteve preste a ser atropelado aos treze e porque não teve coragem de se suicidar – quando ainda tinha razões para fazê-lo – aos dezoito. Digo isso porque me parece que quando não situados, os devaneios tomam a forma que queremos. Você deve saber que essa criatura de vinte e cinco anos segue arrastando-se mundo a fora, vida adentro, sem lenço ou sonhos, com documento surrado no bolso de trás, sem solas ou deuses, crendo em nada do que lhe dizem e em tudo que lhe mentem, cantando vagabundos do cavaco ou do pandeiro, lendo Nietzsche, Morin, Sartre e esses loucos, tolerando Marx e Bakhtin, cuspindo Leminski, perdendo-se em Andrade, Ramos, Amado e qualquer um que invente uma coisa que lhe pareça absurda porque o que não é absurdo já lhe entupiram as fuças.
Fato é que depois das doses frustradas de Domecq com rivotril, dos três cortes no pulso com a serra de pão sem cabo, das inúmeras tentativas de roleta russa com cano enferrujado e os tímpanos estourados por conta do barulho vindo dos três rádios ligados, cá estou eu... Cá estou eu esbravejando como Mick Jagger – mais conservado, porém – e mais desesperado do que qualquer garçom de um bar de Ipanema ou da Lapa – os primeiros por conta dos gringos de sunga e os segundos por conta dos bêbados de cueca, que fique bem claro.
Já estão furados os discos, Lupicínio Rodrigues ficou rouco, todos partiram e deixaram-me só. Damien Rice, Phil Collins e Beatles, para não dizer que não falo inglês. Nem Vinícius restou e Cartola frustrou-se ao ver-me chorar sem disfarçar. Bruno e Marrone fizeram o possível com o baixo cachê [ehh minha cara mudei, minha cara, mas por dentro eu não mudo, o sentimento não pára a doença não sara, seu amor ainda é tudo].
Depois de toda dor possível, daquelas que cachaça não cura nem embebeda, eu, contrito, humilde e temeroso diante da possibilidade de ser acometido por um surto emo, não vejo outra solução, outra saída macha e digna, a não ser dizer-te, com esse peito corno estufado, que não importa as mãos que alisaram tua bunda ou os pássaros que visitaram teu ninho: volta pra mim, Doralice.
Volta que essa bunda e esse ninho são meus, por direito e por amor.
acordei bemol
tudo estava sustenido
Ela bem que tentou explicar
Só que deu azar
Porque ele não queria entender
O povo diz que quando um quer
Dois vão brigar
E é desse jeito que foi
Ela fechou o livro sem marcador
Jogou a agulha no palheiro
Pegou o ônibus errado
Tomou a trilha desconhecida
Sem coçar a cabeça
Ou franzir a testa
Decidiu perdê-lo
E se perder-se
Clê
- ei...
(...)
- ei... oi.
- hum...
- opa.
- ãhn.
- acorda mariana.
- putaqueOpariu!
- calma...sou eu! sua metade.
- metade porra ninhuma. tu é um encosto. só pode.
- é. metade é pouco, porque sem mim, tu é um corpo moribundo e vazio pairando por aí.
- ah é? e você, amada mente, sem um corpo, é o quê? uma idéia pairando sobre a cabeça dos homens. feuebarch não diria melhor.
- ah, não vem não com esse papo hegeliano.
- ué, mas você é toda chegada num idealismo.
- pára! não sou não. me chama de rubro-negra, mas não me chama de idealista.
- tá. boa noite, rubro-negra.
- não, péra aí. oww, acorda aí. tou com insônia.
- ãhn? vira de lado na cama.
- já virei.
- vira de ponta cabeça.
- não dá, aí eu dependo de você. porque revirar aqui dentro, eu já revirei umas 3 vezes.
- se eu virar, você vai dormir?
- bom, aí não sei. só tentando.
- ai meu deus. fica quietinha, minha linda, que o sono vem.
- você é uma pessoa difícil né? não sei como dei o azar de nascer num corpo assim, que não me compreende.
- a mesma coisa lhe digo. lá se vão anos em que eu acordo pregado por sua culpa. azar foi o meu, de ter ganho uma mente que não pára, que não dorme e que se ocupa de tanta besteira.
- tá, eu não quero brigar.
- e eu quero dormir. olha só, amanhã tem que acordar cedo. aí sobra pra mim. porque eu levanto, ando pra pegar o ônibus, passo a manhã de olhão aberto e músculos cansados. e você lá, amarradona, dormindo por detrás dos olhos espertos. incapaz de lembrar o número do ônibus.
- quem vê você falando assim, pensa que essa situação é porque eu quero.
- ai que mania de se fazer de vítima. vai...vamos lá, que que podemos fazer pra embalar esse sono?
- então, tava pensando em comer.
- não! pensa outra coisa. comer não dá, depois o estômago começa a trabalhar e quem não dorme sou eu.
- imaginei que você não fosse querer. mas, não consigo pensar em mais nada.
- tou fudida mesmo. tenho uma mente que só pensa em comer.
- mentira!! eu penso em muitas outras coisas. você sabe.
- tudo bem, pequeno gênio. vamos lá, outra coisa pra fazermos.
- bom, assim rápido, lembrei que ainda tem 4 itaipavas na geladeira...
- má, nem pensar!!! de maneira alguma. cerveja? às 2 da manhã de domingo?
- ué, que que tem? eu durmo bem depois de uma itaipava e isso nem vai te tirar o sono.
- não tira o sono, mas engorda.
- (risos) vai bancar a vaidosa agora? a essa altura das olimpíadas?
- engraçada que só ela. vamos logo, antes que eu desista. cerveja não!
- podemos ir assistir um pouco das competições olímpicas. quem sabe me distraindo não consigo dormir...
- dormir com tv? isso nunca funcionou... não que eu me lembre.
- é. não mesmo...
- além do mais, tem o mala do pedro bial se achando nelson rodrigues. melhor não.
- mas que mania de falar mal do bial. eu gosto dele.
- mentira. você gosta é de big brother.
- gosto mesmo e daí?
- ainda bem que a boca é diligência minha. se eu saísse por aí expondo seus gostos e insanidades, seríamos um desastre,
- ai que ódio essa censura que você me impõe. ai que ódio.
- você devia era me agradecer. e não é censura. eu apenas faço uma pequena seleção do que vamos mostrar de nós para o mundo. é assim que funciona com todos: nem tudo que se pensa, pode ser dito.
- tá, tá. não quero discutir a relação agora. nosso terapeuta disse para focarmos as discussões e vontades. nada de querer resolver tudo numa tacada só.
- disse? nem ouvi. foi na última sessão?
- eu fico revoltada com esse seu descaso com o terapeuta.
- eu fico assustada com essa sua crença de que freud pode te ajudar. ainda sou a resistência materialista desta mulher.
- que mané freud. deixa de baixar o nível da discussão quando não tem argumentos. opa! Esqueci, você não pensa.
- sem ofensas, por favor.
- e além do mais, o materialismo chegou aqui por minha causa. baixa a bola.
- baixei. mas abre teu olho, não foi só eu que avisei. tu bem viu o bodão falando na sexta que enquanto a gente fica lá falando da nossa vida, o tal freudiano bonitinho de cabelo grisalho tá é ouvindo ipod ou fazendo lista de compras.
- ai chega. esse assunto não está mais em discussão. o combinado foi que eu colaborava no futebol e você nos levava pro terapeuta. eu estou cumprindo minha parte. jogadas ensaiadas, bola matada no peito no tempo certo, roubada de bola sem truculência. tudo isso é obra minha. agora, se você quiser, rompemos o combinado.
- não! claro que não. eu estou adorando. gosto do terapeuta. aquele divã é gostosinho, dá uma relaxada. a vista também agrada aos olhos. pra mim, na minha humilde condição de corpo, é até bom.
- então pronto. assunto encerrado.
- encerrado.
- acho que eu queria ler.
- jura?
- porra, preguiçoso hein? pra ler você só tem que passar as páginas e guiar os olhos. o esforço é quase todo meu.
- na verdade, não queria levantar. o torcicolo de ontem me derrubou. e achei aqui uma posição agradável.
- tá. não sei então...
- posso colocar uma música. Nunca mais fizemos isso.
- é uma!
- lembra que antigamente você gostava de dormir com o som ligado?
- é mesmo. tentemos.
- tentemos e boa noite. qualquer coisa me chama.
- te chamo.
Numa das dicas, ela recomenda que se xeroque tudo que levamos na carteira. Primeiro, para lembrar aquilo que nos roubaram, quantos cartões foram afanados, etc. Segundo, porque as cópias também podem ser úteis em casos de lembranças roubadas. No caso dela, levaram o “bilhetinho lindo que o meu [dela] amor desenhou”. O tal bilhetinho era meio que como um amuleto, uma recordação preciosa.
Fiquei pensando nisso. Primeiro que não tenho carteira. Muito menos bolsa. Minhas coisas andam jogadas de mochila
Depois, porque fui me desapegando de tudo com o passar dos anos. É muita recordação nessa vida: é gente que parte dessa pra melhor, é namoro que acaba, amizades que passam, gostos que mudam e no meu caso, um agravante: 5 cidades em 7 anos. Cada mudança era uma enxurrada de cartas e bilhetes de amigos e namoros (ou namoricos) acabados. E cada casa nova tinha seu espaço reservado para as recordações. Com o tempo, o espaço foi ficando cada vez menor, porque de uma mudança pra outra, eu ia sempre deixando muita coisa pra trás. Fria. Insensível. Será?
Acho que não. Lembro-me, por exemplo, de ter todos os cartões de aniversário que me foram enviados na vida. Sempre achei fantástico as pessoas lembrarem do aniversário e mandarem um cartão. Acho bonito também quando o presente (que é sempre a parte menos importante da coisa) vem acompanhado de um cartão - e não estou falando do clássico “parabéns e votos de felicidade”. Um dos últimos, por exemplo, ta lá na cabeceira da cama. Se entrar na mochila, perco qualquer dia desses.
Então lembrei que guardo mensagens de celular. Elas meio que funcionam como o bilhetinho da Cora. Eu sempre releio mensagens carinhosas. Bom, daí troca-se de aparelho ou eles são roubados. E aí? Aí que outras mensagens chegam. E começa tudo de novo. As mensagens de celular são uma chave pra questão: tudo começa de novo. A vida é cíclica. E foi esse movimento das coisas que fez de mim uma desapegada, jamais uma insensível. Como diria Paulinho, “eu não preciso de uma talismã”. Afinal, pra que serve um bilhetinho do meu amor? Muito melhor é quando “meu amuleto é meu bem”.
Lembranças boas são aquelas que conseguimos ver sem nem fechar os olhos, o resto é xerox.
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O silêncio quase surta Camila Jam – que já é uma das minhas personagens favoritas do cinema. Mas também aguça sua criatividade.
É por aí. Engole o silêncio. Entope o choro. Enxuga o suor. Entuba a raiva. E sai escrevendo no rodapé da sala.
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Suzana, cara leitora, tens razão em teu comentário: sem rebeldia.
P-r-a s-e-m-p-r-e
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Fiquem tranqüilos, leitores do ombudsman, Bodão já nos deu seu perdão. Só não mexe muito com o amigo, porque desde que o Mengo saiu do G4 ele anda meio alterado.
Palavra de honra que, em certos momentos, uma dúvida me assalta: não teria eu perdido a razão, e não estaria eu, durante todo esse tempo, fechado num asilo de alienados?
Dostoievski, O Jogador